terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Tudo de bão aos formandos!

Festa Surpresa de Aniversário.

Agradeço o carinho de todos vocês, meus queridos alunos, até daqueles para quem não lecionei esse ano. Daqui há alguns anos vocês se esquecerão de mim, não por displicência ou falta de carinho, mas sim por que a vida segue... Ainda bem! Desejo mesmo que me apaguem da lembrança, que tenham outros mestres, que aprendam  novas coisas e, principalmente, que se tornem adultos que farão a diferença nesse mundo tão insensível e egoísta. 



Aos formandos, especialmente da INF 3 e EDI-3, eu os guardarei na memória, uma memória viva e repleta de afeto, certa de que conheci, brinquei e participei um pouco da educação de jovens guerreiros e maravilhosos. 

Semana das Décadas 50/60, já que falei em brincadeiras
 (deveria dizer micos), eis a hora de lembrar um dos maiores de 2011.
Só perdeu para minha produção de rockeira, ainda bem
que não  restaram registros.

Ainda bem que não registraram também minha
choradeira naquela sexta-feira.

No começo, não levei muita fé nesse negócio de tutoria, mas esses meninos encantaram-me a cada terça-feira e, de repente, abracei-os como parte da minha família. Meu carinho especial aos meninos da EDI-3 ou como gostam de se nomear: da Grande Família EDI-3.

Com muito afeto, Isis.


FELIZ 2012, MEUS QUERIDOS!

domingo, 4 de dezembro de 2011

O país do futebol de luto

O Doutor liderou a Democracia Corintiana e defendeu as Diretas no Brasil
    No país do futebol, poucos jogadores preocupam-se com política ou justiça social. Meninos de origem humilde alcançam a fama e esquecem as mazelas de uma democracia excludente que os deixaram descalços por tanto tempo em uma pátria de chuteiras. 
   Sócrates foi uma brilhante exceção, craque da bola que não se furtou a sua responsabilidade como cidadão. Lutou ao lado de outros tantos pela aprovação da Emenda Dante de Oliveira, que exigia a volta das eleições diretas. Engrossou o coro que clamava por democracia durante o movimento "Diretas Já", após longos e tortuosos anos de repressão política e violência.  A emenda não foi aprovada e nosso país ainda teve que amargar duros golpes no processo de amadurecimento de nossa redemocratização. 

Campanha "Eu quero votar para presidente"
     Por isso, hoje, a poucos minutos do duelo entre Vasco e Corinthians pelo título do Brasileirão, eu - uma vascaína - rendo minha homenagem ao Sócrates, pois mais que ídolo do Timão, o "Doutor" foi um grande cidadão brasileiro.

SÓCRATES (1954 - 2011)

Veja a entrevista de Sócrates e Fafá de Belém sobre o movimento "Diretas Já", no programa "Altas Horas", em outubro deste ano:




sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Samba, agoniza, mas não morre

Eu sou o samba
A voz do morro sou eu mesmo sim senhor
Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Eu sou o rei do terreiro
Eu sou o samba
Sou natural daqui do Rio de Janeiro
Sou eu quem levo a alegria
Para milhões de corações brasileiros
Salve o samba, queremos samba
Quem está pedindo é a voz do povo de um país
Salve o samba, queremos samba
Essa melodia de um Brasil feliz

(Zé Keti. A Voz do Morro)




Em homenagem ao Dia Nacional do Samba, um trecho do excelente verbete do Dicionário Cravo Albin, que aliás é uma ótima referência para quem quer conhecer mais sobre música brasileira e está disponível gratuitamente na internet.


Uma das ladeiras do Morro do Castelo.
Foto do início do século XX.
No Rio de Janeiro a partir de 1850, mais especificamente nas imediações do Morro da Conceição, Pedra do Sal, Praça Mauá, Praça XI, Cidade Nova, Saúde e Zona Portuária, foi crescendo a população de negros e mestiços oriundos de várias partes do Brasil, principalmente da Bahia, bem como de ex-soldados da Guerra de Canudos. Estes últimos viriam a formar uma comunidade que eles próprios denominaram de "Favela" - termo que posteriormente viria a ser usado como sinônimo de construções irregulares das classes menos favorecidas. Um dos principais líderes desse tipo de comunidade pobres foi o músico e dançarino Hilário Jovino Ferreira (1855/1933), responsável pela fundação de vários blocos de afoxés e ranchos carnavalescos. 
Tias Baianas: Ciata e Josefa.
 Matriarcas do Samba.
Muitas baianas descendentes de escravos alojaram-se nestes bairros, sendo conhecidas como as Tias Baianas. Inconteste a contribuição das Tias do Samba, como eram conhecidas no final do século 19, para a sedimentação da cultura negra, principalmente com relação ao candomblé e ao samba (amaxixado) desta época. (...) Tia Ciata ou Aciata ou mesmo com a grafia Asseata, foi uma das responsáveis pela sedimentação do samba-carioca. Diz a lenda que um samba para alcançar sucesso teria que passar pela casa de Tia Ciata e ser aprovado nas rodas de samba das festas, que chegavam a durar dias. Várias composições eram criadas e cantadas em improvisos, caso do samba "Pelo telefone", que viria a ganhar a assinatura de Donga (Ernesto Joaquim Maria dos Santos - 1890/1974) e Mauro de Almeida (jornalista conhecido como Peru dos Pés Frios - 1882/1956), samba para o qual também havia outras tantas versões. Este samba-maxixe é considerado o primeiro a ser gravado, ainda no ano de 1917. 

"Pelo telefone" é considerado o primeiro samba gravado em 1917.

(...) Possivelmente o termo "Samba" é uma corruptela de "Semba" (umbigada), palavra de origem africana, provavelmente do Congo ou Angola, donde vieram a maior parte dos escravos para o Brasil. Uma das grafias mais antigas do termo "Samba" foi publicada por Frei Miguel do Sacramento Lopes Gama, em fevereiro de 1838 na revista pernambucana "Carapuceiro", não se referindo ao gênero musical, mas sim a um tipo de folguedo popular de negros da época. Segundo o pesquisador Hiram Araújo, na Bahia, ao longo dos séculos, as festas de danças dos negros escravos eram chamadas de "Samba". Com o passar dos anos, a dança "Samba", sempre conduzida por diversos tipos de batuques, assumiu características próprias em cada estado, não só pela diversidade das tribos de escravos, como pela peculariedade da região em que foram assentados. (...)
Escola de Samba "Deixa Falar".
Em 1927 surge a primeira das escolas de samba, a Deixa Falar, no bairro do Estácio de Sá, vizinho ao afamado quarteirão boêmio carioca da Lapa. Inicialmente era um Rancho Carnavalesco, posteriormente Bloco Carnavalesco e por fim, Escola de Samba, tendo como fundadores alguns compositores do bairro do Estácio, entre eles Ismael Silva, Alcebíades Barcelos (Bide), Armando Marçal e Rubem Barcelos, de uma turma também integrada por Mano Elói, Nilton Bastos, Aurélio, Baiaco, Brancura e Mano Edgar. Estes compositores fizeram com que o samba fosse devidamente ritmado de forma que pudesse ser acompanhado no desfile, distanciando assim do andamento amaxixado de outros compositores como Sinhô. Oficialmente como Escola de Samba, a Deixa Falar desfilou apenas em 1929, 1930 e 1931, quando encerrou as atividades como Rancho Carnavalesco de segunda categoria, devidamente pobre e sem expressão maior perante à comunidade.

Durante o Estado Novo, o universo cotidiano do sambista se 
desloca  da Lapa para a fábrica e o trabalho.  É tempo do 
"samba exaltação" ou  do "samba da legalidade". 

Um dos decretos constitucionais de 1937 im-
punha às escolas de samba a abordagem de
temas nacionais e patrióticos. Em 1939, a es-
cola de samba Vizinha Faladeira foi desclas-
sificada por ter escolhido como tema a Bran-
de Neve, considerado internacionalista.        
(...) O Samba-enredo, juntamente com as Escolas de Samba que galgaram estágios de aceitação, admiração e paternalização através dos anos, tornou-se um dos símbolos nacionais. Pesquisadores discutem se o samba virou bem de consumo ou não, e se houve ou não a ascensão social do sambista. Inicialmente o samba-enredo não tinha enredo. Com a entrada do Estado (mais propriamente o Estado Novo, no ano de 1937) na organização dos desfiles, foi criada uma contra partida, a de os temas serem sobre a história oficial do Brasil. Samba-canção: Surgido na década de 1920 e firmando-se na década seguinte, esta forma de "amaciamento" do samba, segundo Ruy Castro, inicialmente tinha influência do fox e na década de 1940, do bolero. Se o "Samba de morro" tratava de temas diversos como malandragem, mulheres comportadas, favelas, esperteza etc, o samba-canção mudou o foco para o lado subjetivo das dores e ingratidões, principalmente pela ótica do sofredor amoroso, tendo como resquício a temática do bolero, então em voga. O samba-canção tinha como ênfase musical a melodia, geralmente de fácil aceitação. 
O Samba canção: "Ninguém me ama", de Antônio Maria, na voz de Nora Ney.

João Gilberto e Tom Jobim.
No final da década de 1950, com o surgimento da bossa-nova, o samba-canção com sua temática mais voltada para a 'fossa' foi sendo um pouco esquecido e dando vez a temas mais ligados à praia, ao mar, ao sol e ao sal, dentre outros temas mais amenos, cultivados por essa nova geração de compositores. (...) Pouco depois, esses compositores, sedimentados pela batida do violão de João Gilberto e as composições de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, formariam o núcleo central de um novo movimento denominado Bossa Nova. 




O Sambalanço é considerado um sub-produto da Bossa-Nova e muito utilizado em bailes suburbanos das décadas de 1960 a 1980. 


Ed Lincoln - o Rei do Sambalanço.

Heitor dos Prazeres. Samba de roda.
(...) O samba, além de ritmo e compasso definidos musicalmente, traz historicamente em seu bojo toda uma cultura de comidas (pratos específicos para ocasiões), festas, roupas (sapato bico fino, camisa de linho etc), danças variadas (miudinho, coco, samba de roda, pernada etc) e ainda a pintura naif, de nomes consagrados como Nelson Sargento, Guilherme de Brito e Heitor dos Prazeres, para citar apenas três pintores, além de artistas anônimos das comunidades (pintores, escultores, desenhistas e estilistas) que confeccionam as roupas, fantasias, alegorias carnavalescas e os carros abre-alas das escolas de samba. (...)
Outra tela de Heitor dos Prazeres.


No ano de 2004 o Ministro da Cultura, Gilberto Gil, apresentou à UNESCO o pedido de tombamento do gênero "Samba", sob o título de "Patrimônio Cultural da Humanidade", na categoria "Bem Imaterial", através do Instituto Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). No ano de 2005, o samba-de-roda do Recôncavo Baiano foi proclamado pela Unesco "Patrimônio da Humanidade" na categoria de "Expressões orais e imateriais". Em 2007 o IPHAN conferiu registro oficial, no Livro de Registro das Formas de Expressão, às matrizes do samba do Rio de Janeiro: samba de terreiro, partido-alto e samba-enredo.

Verbete Samba. In: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Disponível em: http://www.dicionariompb.com.br/samba/dados-artisticos Acesso em: 21 de out 2011.


Então, se é o Dia do Samba, vamos sambar...



Samba, agoniza mas não morre
Alguém sempre te socorre
Antes do suspiro derradeiro

Samba, negro forte destemido
Foi duramente perseguido
Nas esquinas, no botequim, no terreiro

Samba, inocente pé no chão
A fidalguia do salão
Te abraçou, te envolveu

Mudaram toda a sua estrutura
Te impuseram outra cultura
 você nem percebeu

(Nelson Sargento. Agoniza, mas não morre)